GRUPO DE ESTUDOS RIMBAUD | COM CLAUDIO WILLER
6 encontros aos sábados intercalados - a começar no dia 19/01
10h às 12h - República, SP | R$ 210,00 | contato: arte.passagem@gmail.com
O grupo de estudos com o poeta Claudio Willer examinará as etapas da produção literária de Arthur Rimbaud (1854-1891): as poesias do seu início, quando ainda era um voraz leitor, adolescente no interior da França; as prosas poéticas de Uma Temporada no Inferno e Iluminações, as experiências catárticas e proféticas de um poeta-vidente; e, por fim, as suas correspondências, dados biográficos e a vida de reclusão na Abissínia, incluindo a negação da literatura.
Afirma Claudio Willer: É hora de reler Rimbaud. Reacionários atualizam sua rebelião. Convidam à difusão dos impropérios contra os beatos em “Os pobres na igreja”, os burocratas em “Os assentados” e “Os aduaneiros”; os detentores do poder em “O Mal”; o beletrismo em “O que dizem ao poeta a respeito das flores”; valores estéticos em “Venus Anadiomene”; os bons sentimentos em geral em “O homem justo”.
“Espero tornar-me um louco muito mau”: essa frase de “Vidas”, uma das Iluminações, poderia ser sua epígrafe geral. Com sua poética do delírio, do desregramento dos sentidos, atacou o próprio sentido das palavras: a relação de significação, substituído pela liberdade de significar. Em Uma estadia no Inferno, criou o monólogo do exilado no mundo – “Por ora sou maldito, tenho horror à pátria”. Identificou-se aos marginais e criminosos: é “o forçado intratável contra quem se encerram as grades da prisão”. E especialmente aos negros, metáforas da diferença: “sou um bicho, um negro”.
Em A Folie Baudelaire, Roberto Calasso o retrata como “adolescente selvático das Ardenas”, nascido e criado “numa terra renitente a civilizar-se”. Rimbaud, o poeta perverso. Em “Os poetas de sete anos”, encontra-se com uma “pirralha infernal”, que lhe pula às costas: “Ele por baixo então lhe mordiscava as popas, / porquanto ela jamais andava de calcinha.” Observa Calasso: “Até então a literatura vivera ignorando tudo isso. Nenhum escritor, nem mesmo Baudelaire, ousara mencionar cenas desse tipo. ”
O poema “O barco ébrio”, que levou a Paris para mostrar a Verlaine, proclama seu ideal de liberdade absoluta. A tripulação do barco é morta, permitindo-lhe vogar à vontade. Para Calasso, “a cerimônia inaugural da literatura que soltou as amarras”.
Exerceu especial influência através da fase final de sua obra. Sua poesia e prosa, junto com a “Carta do Vidente”, justificaram ver-se como o novo Prometeu: “O poeta é realmente o ladrão do fogo”. Uma estadia no inferno e Iluminações são literatura do século XX no final do século XIX. Iluminações poderia passar por obra escrita entre 1920 e 1930. Poemas descobertos e publicados mais tarde, como O álbum Zútico e Os stupra, são mais precursores ainda, pela ruptura com a relação de significação e de autoria.
Sua retirada e silêncio têm múltiplas razões; entre outras, a derrota política. Sabia que “A verdadeira vida não está aqui”; preferiu não dizer mais nada a ter que expressar o desencantamento diante de um mundo que se fechava à realização da sua utopia, de “saudar o nascimento do trabalho novo, da nova sabedoria, a fuga dos tiranos e demônios, o fim da superstição, para adorar – os primeiros! o Natal na terra”. Sua vertiginosa recepção, como um dos autores de maior impacto no século XX, está na medida de seu inconformismo. E seus poemas e prosas poéticas continuarão a despertar talentos, mostrando possibilidades de expressar-se; manifestando o inconformismo diante do que está aí.
WILLER, Claudio. Arthur Rimbaud: o rebelde
https://www.academia.edu/7784336/Arthur_Rimbaud_o_rebelde