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A origem da esfinge


Na véspera da montagem, atordoado, cansado e inseguro, estava andando pelos arredores da vitrine quando me deparo com essa imagem um tanto enigmática: com traços contraditórios (ora firmes, ora vacilantes) e um texto ilegível na sua base: que imagem era essa? Um corpo sobre uma cama? Um desenho fálico? Uma pássaro? Abaixo se lê algo de "Deus só (?)" e certamente é uma cama e um corpo sobre ela acima do texto.

Eu não entendi nada mas sabia que aquilo queria me dizer alguma coisa. Tirei uma foto e voltei ao ateliê sem saber muito o que fazer da imagem e, em uma cartada de desespero, em um lampejo de consciência, descobri que era ela a minha própria esfinge: eu mesmo em dúvida no limiar do meu flânerie, capturado por um desenho, encerrado na minha cabeça.

Decidi - a partir dela - mudar a disposição da vitrine e replicar esse desenho em uma tela e em muitos painéis de madeira que estariam dispostos por pontos próximos, a causar o mesmo estranhamento no espectador que a imagem originária causou em mim (ao pé da estátua do Dante, recostada em uma parede de grafite, no carrinho do senhor engraxate). As telas de madeira inevitavelmente sumirão ao longo dos dias e, portanto, novas reposições serão feitas, outras cores, outros tamanhos, outros lugares. É responder à cidade aquilo que ela me perguntou "possuída pelo demônio da analogia" (Willer in Volta, p.48)


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